por Susana Reis & Rui Rufino
6 Novembro 2017

Os morcegos estão entre os grupos mais ameaçados do mundo. Das 25 espécies referidas para Portugal Continental (Rainho et al., 2013), nove estão classificadas com estatuto de ameaça e para outras tantas a informação disponível é considerada insuficiente para avaliar directa ou indirectamente o seu risco de extinção baseada na sua distribuição e/ou estatuto populacional (Cabral et al., 2006).

Durante o dia os morcegos utilizam diversos tipos de estruturas naturais para se abrigarem como grutas, árvores ou rochas, mas também artificiais como edifícios, pontes ou mesmo candeeiros de iluminação pública. Dependendo das preferências de cada espécie e da época do ano poderão utilizar um tipo de abrigo em exclusividade ou várias tipologias. A protecção dos abrigos de morcegos é uma das mais importantes medidas de conservação que é exigida, habitualmente, no âmbito de processos de Avaliação e Monitorização de Impacte Ambiental. 

Foi neste contexto que, durante o primeiro ano do Programa de Monitorização da Auto-estrada da Concessão Transmontana, que veio substituir o antigo IP4, se detectou uma colónia de maternidade de várias centenas de morcegos-rabudos (Tadarida teniotis) no viaduto sobre o Rio Tinhela, que estava em uso no IP4. Este é um dos maiores rios na região e o viaduto um dos mais altos, e só com recurso a binóculos foi possível observar os morcegos abrigados nas fendas verticais das cornijas.

Fendas verticais das cornijas do viaduto do IP4.

Morcego-rabudo (Tadarida teniotis) no viaduto sobre o Rio Tinhela.

A inspecção das cornijas e de locais com as mesmas características em viadutos sobre os outros rios monitorizados permitiu detectar a presença de morcegos também no Corgo, Tua e Sabor.

Viaduto do IP4, em Trás-os-Montes.

Viaduto sobre o Rio Corgo.

Fendas verticais das cornijas do viaduto do IP4.

Morcego-hortelão-claro (Eptesicus isabellinus) no viaduto sobre o Rio Corgo.

No segundo ano de monitorização e durante todo o período de obras manteve-se a utilização do abrigo apesar da intensa perturbação resultante da presença humana, da circulação de máquinas e dos trabalhos de construção do novo viaduto estarem a decorrer a poucos metros do já existente. Em pelo menos um caso, os viadutos construídos foram imediatamente ocupados confirmando que possuem características semelhantes às já existentes e que os morcegos se adaptaram facilmente.

Obras nos viadutos do IP4.

Obras no viaduto sobre o Rio Tinhela.

As pontes antigas de pedra sobre rios ou ribeiros são bastante utilizadas por morcegos e por isso prospectadas habitualmente durante estes trabalhos, mas esta foi a primeira vez que em Portugal se observaram morcegos a utilizar este tipo de viadutos de grandes dimensões, numa estrada com elevada intensidade de tráfego.

Para o morcego-rabudo, em particular, estes dados permitiram aumentar o conhecimento sobre a dimensão da sua população e distribuição em território nacional, tanto mais que à data decorriam ainda os trabalhos de recolha de dados para o Atlas dos Morcegos de Portugal Continental, o que permitiu que fossem prospectadas estruturas semelhantes noutras regiões.

Referências:

Cabral M.J., Almeida J., Catry P., Encarnação V., Franco C., Granadeiro J.P., Lopes R., Moreira F., Oliveira P., Onofre N., Pacheco C., Pinto M., Pitta M.J., Ramos J. & Silva L. (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. ICNB, Lisboa.

Rainho, A., Alves, P., Amorim, F. & Marques, J.T. (Coord.). Atlas dos Morcegos de Portugal Continental. ICNF, Lisboa.

Nota:

A Mãe d’água apresentou este trabalho em formato poster na ‘IAIA12 Conference’ Energy Future The Role of Impact Assessment 32nd Annual Meeting of the International Association for Impact Assessment que decorreu de 27 de Maio a 1 de Junho de 2012 no Centro de Congresso da Alfândega, no Porto.

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