por Renato Neves
22 Janeiro 2018

No Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (ICNB, 2005) o esturjão Acipenser sturio (que popularmente era conhecido como solho) está classificado na categoria de Regionalmente Extinto, o que de acordo com os critérios da UICN significa que ”não restam dúvidas que o último indivíduo potencialmente capaz de se reproduzir na região morreu, ou desapareceu da mesma”.

O seu desaparecimento dos rios Douro, Tejo e Guadiana iniciou-se em meados dos anos 40 do século XX, datando os últimos registos de captura do início dos anos 80 no rio Guadiana. O processo de extinção nos outros dois rios citados foi, devido à construção das grandes barragens, certamente bastante mais rápido e precoce.

Ficou no entanto na memória e no imaginário das populações dos lugares ribeirinhos. No Douro, os relatos transmitidos pelos “antigos” do aparecimento de peixe-solhos, ou peixes-sonhos, de dimensões “maiores que barcas”, são algo recorrentes. Segundo eles estes peixes viviam nas zonas mais profundas do rio, só vindo à superfície durante a noite, sendo muito raramente vistos, e menos ainda pescados. Os informantes nunca os viram, mas houve sempre um tio, ou um avô que testemunharam a existência desses peixes.
Mitos e relatos fantasiosos? Talvez não tanto. Júlio de Castilho, na sua obra Lisboa Antiga, Vol. IV, (Lisboa, 1936), cita um letreiro que terá existido junto a uma representação de um solho na biblioteca de D. João III, no Castelo de S. Jorge, cuja transcrição apresentamos:

“NO ANNO DE MCCCXXI JUNTO A MONTALVÃO, NO TEJO SE TOMOU UM SOLHO DA GRANDEZA QUE REPRESENTA ESTA PINTURA: E PESOU PELOS PESOS DE SANTARÉM XVII ARROBAS E MEIA (cerca de 250kg), DE QUE HÁ JUSTIFICAÇÃO N’ESTE ARQUIVO, QUE NELLE MANDOU LANÇAR D. DINIZ, A QUEM SE PRESENTEOU, COMO CONSTA NA MESMA JUSTIFICAÇÃO”.

Margem de cascalho grosso no Rio Tejo, perto de Montalvão.

O rio Tejo nas proximidades de Montalvão.