por Rui Rufino & Renato Neves
23 Outubro 2017
As variações na distribuição das aves ao longo de um gradiente de altitude são conhecidas e têm sido objecto de estudo em diversos sistemas montanhosos existentes nas mais diferentes latitudes. Sabe-se que a riqueza específica tende a diminuir à medida que vamos subindo para os pontos mais altos das montanhas e que a abundância sofre igualmente uma redução ao longo deste gradiente. Sabe-se igualmente que algumas espécies estão bem adaptadas aos cumes montanhosos, não ocorrendo a altitudes inferiores e que muitas outras não ocorrem nas zonas mais elevadas.
Estudos recentes mostram que este fenómeno pode ser utilizado como uma ferramenta para detectar os efeitos associados às alterações climáticas, uma vez que os limiares superiores a que as espécies menos tolerantes à altitude tendem a subir em resultado do aquecimento global e que os limiares inferiores das espécies bem adaptadas às cumeadas das montanhas tendem igualmente a deslocar-se para cotas mais elevadas. Neste quadro a existência de dados históricos, de Atlas ou de Censos, podem constituir uma ferramenta de grande utilidade na verificação e monitorização dos efeitos associados ao aquecimento global.
No âmbito de trabalhos efectuados para o Estabelecimento de indicadores para a avaliação e acompanhamento das Intervenções Territoriais Integradas (ITI) na Serra da Estrela e no Tejo Internacional a Mãe d’água efectuou um conjunto de tarefas que serviram para o estabelecimento de uma situação de referência de cada um destas ITIs. No caso particular da Serra da Estrela esses trabalhos incluíram a realização de censos de passeriformes em 100 pontos diferentes, distribuídos ao longo de um gradiente de altitude, entre 350 a 2000m.
Os resultados obtidos corroboram o conhecimento existente relativamente à distribuição da abundância (número de aves) e da riqueza específica (número de espécies), conforme se pode ver nas figuras que aqui se apresentam.
Estes dados foram recolhidos em 2013 e tinham como objectivo a constituição de uma referência no quadro da monitorização das medidas de gestão associadas à ITI, no entanto, eles constituem também uma referência para trabalhos futuros no domínio das alterações climáticas uma vez que permitirão identificar e caracterizar os efeitos destas alterações no nosso território.
Por último, gostaríamos de salientar que a Mãe d’água está disponível para colaborações com equipas de investigação que trabalhem nesta área.