por Renato Neves
18 Agosto 2017

(um cristal de sal)… é um sopro do vento, é um pedaço do mar, é um átomo do sol, é uma lágrima, é uma gota de suor. É, por isso, Água, Terra, Fogo, Ar, e também trabalho, muito trabalho, é tudo, e é apenas um pequeno cristal de sal…

Foram estas as palavras que escolhemos para a entrada da exposição permanente do Núcleo Museológico do Sal da Figueira da Foz inaugurado em 17 de Agosto de 2007.

Foi o culminar de um longo processo, em que a Mãe d’água esteve sempre presente, iniciado com o projecto ALAS (1999-2002) que permitiu a recuperação de uma salina (o Corredor da Cobra) e do seu respectivo armazém, tendo mais tarde sido construído o edifício que iria acolher a sede do Núcleo (projecto da Arquitecta Ana Reis).

Desde o início que este espaço foi pensado como “museu de sítio” ou “ecomuseu”, em que a exposição permanente, o espaço produtivo (salina) e a área de armazenamento funcionassem interligados, em que os sons do ambiente, os gestos e as práticas, constituíssem eles próprios “meios interpretativos”. A ligação, e a abertura, à comunidade local, aos homens e mulheres do sal, foi desde sempre igualmente uma preocupação do NMSFF.

Foi a partir destes pressupostos que a Mãe d’água, em colaboração com a Divisão de Cultura da CM da Figueira da Foz, desenvolveu o projecto museológico. Passados 10 anos – e alguns milhares de visitantes – estamos todos de parabéns!

Também porque a economia local do sal tem conhecido alguma revitalização com a chegada de alguns jovens produtores, em parte devida também às estratégias de promoção do salgado que o NMSFF tem realizado nestes 10 anos, quer autonomamente, quer integrado em projectos europeus, nomeadamente em projectos Interreg do Arco Atlântico (SAL – Interreg IIIB e ECOSAL Atlantis – Interreg IVB), nos quais a Mãe d’água assumiu o papel de entidade coordenadora nacional.

Porém a programação do NMSFF visando a dinamização do espaço e a estratégia de valorização do salgado, passou também por muitas actividades e práticas inovadoras, levadas a cabo pela responsável pelo Núcleo, a Dr.ª Sónia Ferreira Pinto, que, entretanto a partir de Junho de 2017 aceitou outro desafio profissional, e para a qual deixamos o nosso testemunho de agradecimento.

 

A bomba de água das salinas da Figueira da Foz é um mecanismo elevatório manual, aparentemente importado da cultura do arroz do Baixo Mondego

Bomba de água das marinhas da Figueira da Foz e planta do Corredor da Cobra com os respectivos compartimentos, divisórias e canais

Conjunto de alfaias típicas da tecnologia do sal da Figueira da Foz

Algumas alfaias do sal da Figueira: tamanco, forma, pás de moirar, pá de malhadal, ugalho de achigar, ugalho de rer

Fotografia de data desconhecida. Provavelmente meados dos anos 50 do sec. XX

As salineiras ou tiradeiras das marinhas da Figueira da Foz. Centenas de mulheres trabalharam nesta actividade. Mães e avós de uma boa parte da população das actuais freguesias de Lavos e Vila Verde (fotografia do Arquivo Fotográfico da CM Figueira da Foz)

Edifício principal do NMSF, comportando recepção, exposição permanente, área de exposições temporárias, zonas de estadia, WC e arrumos

Edifício do NMSFF; à direita o típico armazém de sal. Note-se a excelente integração de um conceito de arquitectura moderno numa “paisagem tradicional” (projecto de Ana Reis)

O conceito do edifício previa a utilização da sua cobertura como “observatório”, permitindo desta forma uma melhor percepção da paisagem

Cobertura do NMSFF, com vista sobre o Corredor da Cobra (viveiros, vasa, entrebanhos, cabeceiras, malhadal e talhões, visíveis nesta fotografia) e área envolvente. A vista permite uma excelente “interpretação” da salina e do salgado

Além de ponto de apoio aos visitantes esta área foi também estruturada para ser um ponto de venda de produtos do salgado (sal, flor de sal, sais de banho, salicórnia e outras plantas halófitas) aberto a todos os produtores do salgado da Figueira da Foz

Recepção e loja do NMSFF

O projecto museológico do NMSFF foi realizado pela Mãe d’água com a colaboração da Divisão de Cultura da CMFF (conceito e conteúdos); Medialand (design gráfico); B2R (impressões); Carpintauto (carpintaria e montagens); António Casanova (modelos); Manuel Oliveira (bomba de água da Figueira da Foz)