por Renato Neves
28 Agosto 2017

Demos com a pista; era de 8 de Outubro de 1290. Estava nas Chancelarias de D. Dinis; trata-se de uma carta de aforamento dos Casais de Valoura (Vila Pouca de Aguiar?), na qual era estabelecido o foro pago pelos moradores relativo à caça de veados, javalis e ursos. Vale a pena transcrever:

“… darem do vrso as maãos, e do porco montez a espadoa e do cervo e do corço a perna…”

Depois há ainda a lenda, desse mesmo rei D. Dinis, ter sido atacado por um urso, para uns no Alentejo para outros em Monte Real (Leiria), e vendo-se o rei em tal aflição, ter invocado a intervenção divina, a qual lhe permitiu matar o urso com uma punhalada em pleno coração. Episódio que terá estado na origem da fundação do convento de Odivelas.

Segue-se uma longa ausência de vestígios, mas lá para o reinado de D. João I, mais concretamente em 26 de Outubro de 1408, o urso surge em Trancoso, mas desta feita proibindo-se a sua caça na coutada do monte do Obeeiro.

É da Chancelaria deste mesmo rei, datada de 5 de Fevereiro de 1412, uma nova proibição da caça aos ursos, agora já alargada a todas as comarcas de Entre-Tejo-e-Guadiana e Estremadura.

Perdemos-lhe o rasto numa última referência, desta vez do Professor Baeta Neves, publicada na “Gazeta das Aldeias” em 1967, que refere ter sido morto o último urso em Portugal em meados do século XVII (1670?), na Serra do Gerês.

Um destes dias vamos tentar seguir-lhe novamente a pista, não na documentação mas sim na toponímia e nos vestígios dos monumentais muros-apiários, verdadeiras fortalezas contra o ataque dos ursos às colmeias que ainda subsistem em algumas serranias do norte e centro de Portugal.

Referências:

Baeta Neves, C.M.L. História Florestal, Aquícola e Cinegética, – Colectânea de documentos existentes no Arquivo Nacional Torre do Tombo – Vol I, MAP-DGOGF, Lisboa 1980

Sobre muros apiários aconselhamos a leitura do (excelente!) artigo “Muros-apiários da bacia do médio Tejo (regiões de Castelo Branco e Cáceres)”

Nota: Foto editada a partir de original obtido no site da Fundación Oso Pardo